quinta-feira, 20 de julho de 2017

OUTRO DIA EU SONHEI...



OUTRO DIA EU SONHEI...
Ao chegar em casa, verifiquei que a porta da sala estava deslocada, encostada numa parede, deixando o espaço aberto para quem quisesse entrar. Nada estava fora de lugar, mas isso me assustou, afinal, não tinha sido avisada de nenhuma obra. Seguindo a lógica do sonho, onde tempo e espaço propiciam voos, fui averiguar o fato, e percebi que na casa vizinha estavam fazendo obras. Ali, com muito esmero, alguém estava pintando uma parede, e na janela, logo acima, eu via flores coloridas. Alguém, daquele tipo que aparece em sonhos sem ser visto, me explicou que especialistas estavam reformando o lugar, dando a ele nova cara. Fiquei contente, apesar de um pouco incomodada com a provisória falta de privacidade, mas aceitei o fato. Saí descontraída para a rua, procurando algo fora que me distraísse por algum tempo. Lá, encontrei a vizinha, dona da casa que estava sendo pintada, antiga conhecida minha, que estressada, não aceitou meu convite para nos distrairmos juntas. Ela estava ocupadíssima, ou achava que estava, e não podia relaxar nem por um segundo. Tentei convencê-la, mas não deu certo. Estava fechada em suas preocupações, surda para coisas novas mais divertidas e leves. Uma pena, pensei, mas segui meu caminho, feliz com a reforma de algo que andava velho, sem graça, com pouca esperança de renovação. Fui caminhando pelas ruas, e me lembrei dos pedidos que havia feito para os céus, do meu jeito simples, para que algo se transformasse. A resposta veio à galope: a primeira coisa que aconteceu foi a retirada da porta de minha casa, um possível alerta sobre a questão dos limites.
A quantidade de símbolos, o que torna os sonhos uma fonte de riquezas, rendeu inúmeros pontos de reflexão que me preencheram o dia, onde ainda cabem múltiplas interpretações, à escolha dos leitores. A primeira ideia que me ocorreu foi sobre a diferença entre colocar limites nos nossos assuntos em vários níveis, e fechar o coração, endurecê-lo. Quando digo não a algo ou a alguém, qual intenção me dirige? A raiva e a vontade de revanche por algo que considero injusto? Ou porque acho que não deva ter total disponibilidade para satisfazer o outro, coisa que se deve geralmente a sentimentos idiotas de culpa? Dizer não atrai caras feias, promessas de rejeição, mas, se o coração estiver aberto para compreender o que está além de nosso umbigo, não trará consequências sérias. Talvez uma discussãozinha, ou um biquinho emburrado que vai passar. Mas, se der de cara com um coração fechado, aí, é guerra! Tsk,tsk, preocupante... e será mais se a porta não for recolocada de maneira mais adequada.
Quantas vezes nos equivocamos, deixando que em nome de sei lá o que, entre na nossa vida quem quiser, da maneira que quiser, e depois nos pegamos resmungando e colocando a culpa nas limitações alheias, que vimos e fingimos não ver; quantas vezes, movidos pelo lado sombrio do qual ninguém escapa, fechamos a mesma porta para algo que poderia florir nossos dias, por conta do medo, ou seguindo tudo menos a nossa intuição; e quantas vezes deixamos escapar entre os dedos o que nos deixava felizes e nem sequer sabíamos, para depois chorarmos sozinhos nos cantos escuros? E ainda, quantas vezes nem nos damos conta dos nossos pensamentos e sentimentos que passeiam livremente, gerando qualquer tipo de manifestação pela vida afora?
Quem sabe nosso coração anda fechado para o sim e para o não, inundado pela dor das inúmeras frustrações de expectativas? Se elas tiverem dominado a vida, roubado a esperança, aqui confundida com ilusões, aí é possível que não se acredite mais em muita coisa, o que é uma lástima. Se nossos sonhos viraram pó, sério, não há outros para colocar em seu lugar? Será que a superação dos nossos tropeços se dá somente através de ocupações que funcionam no piloto automático? Quando a solidão se instala, e seu único antídoto passa a ser banhar-se nas águas das coisas materiais, ostentando, desprezando a dor do outro, uma vez que ninguém se importou com a nossa, é hora de soar o alarme. Sem acreditar mais em mudanças internas, já que tudo foi projetado no mundo lá fora, compaixão e desapego são desprezados, sem que pelo menos uma semente de amor brote, desobstruindo o coração para que as águas estagnadas se movimentem. A possibilidade de um novo rumo está impedida por mágoas, ressentimentos. Porta fechada.
Mas, ainda bem que sabemos que nem todas as ideias dão certo, e que as frustrações fazem parte da vida. Como dizia um amigo meu, continuemos tentando abrir caminho para novos planos. Vale lembrar que a avaliação de sucesso ou fracasso é sempre muito relativa, mora em nossa intimidade, e depende basicamente das expectativas que temos sobre o que criamos. Não tem nada a ver com que os outros criaram para não se sentirem incomodados com as diferenças. Mudar de rumo, com uma forcinha vinda da nossa própria busca de apoio, e a firme intenção de colocar mais aprendizagem na bagagem é uma boa ideia. Porta aberta.
Enfim, com uma porta bem colocada, é possível enxergar de forma mais nítida o que o universo nos traz de maneiras surpreendentes, porque ele traz mesmo! E que ele continue então nos trazendo bons sonhos!

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