sábado, 8 de agosto de 2020

Relaxar, topa?

- Às vezes eu simplesmente não consigo relaxar... 

- Há momentos em que a gente acha que relaxar é impossível, que é preciso permanecer atento a tudo e a todos, que acalmar a mente pode ser perigoso.

- É mesmo. Não tenho ideia de onde vem tamanha ansiedade. E nem sei onde fica o botão que desliga a cabeça a mil.

- Dizem por aí que ao enxergarmos o bicho que nos assusta, é meio caminho andado. Ansiedade? Quem sabe é uma questão de ousarmos conhecer mais sobre nossos fios desencapados, esses que dão choque na hora que decidimos relaxar? 

- Ah, não sei não, muitas coisas têm sido compartilhadas pelos canais modernos de comunicação, incluindo orientações as mais variadas sobre como resolver os mais diversos conflitos e problemas humanos. Dá vontade de ir lá ver nos bastidores dessa turma se já resolveram os próprios problemas usando suas ferramentas. 

- Resolver seria ter paz no lugar da angústia? Isso relaxa?

-  Angústia tem a ver com relaxar? Será? Bem, se nem tudo está perdido, poderemos tomar providências para reaprender a relaxar. Talvez a gente deva reunir as técnicas oferecidas e processá-las, testá-las, sei lá...

- Ou talvez nos lembrar da magia que é respirar em momentos críticos; ou tentar sair das malhas dos rancores, dos medos, das culpas. Mas levaremos séculos para isso, e nem sabemos se vai funcionar.

- E além do mais, como faríamos isso? 

- Ora, usando a capacidade humana de refletir sobre situações que deverão passar pelo teste da realidade.

- Realidade? Por favor, não traga essa palavra, porque vai complicar mais ainda. A minha realidade é só minha, a sua é só sua.

- Faz sentido. Quis dizer que nossas expectativas quase sempre se originam em carências que de tanto serem carentes se tornam exigências, intolerância à frustrações, e para coroar a experiência, se embolam em ansiedade. 

- Uau! Agora você arrasou com "embolam em ansiedade". Fez algum curso, ou está atuando como algum tipo de cuidador, treinador, sei lá, uma dessas profissões atuais?

- Nada disso. Falo de deixar ir, sem ficar gastando à toa energias preciosas, ruminando. Falo também de compreender melhor e até admirar eventos, limpar o emocional daquilo que não faz parte do momento de relaxar. Afinal, relaxar pode ser  soltar as amarras do pensamento e das emoções, sem medo de não conseguir voltar a consciência a um lugar seguro.

- Consciência tem um lugar seguro? Você hoje está se superando! 

- Ou talvez para relaxar seja preciso sermos sinceros. Admitirmos sentimentos que não são bem vindos, sem nos entregarmos a eles.

- Desistirmos de sermos perfeitos, sem nunca poder errar.

- Você também está ficando esperto, tornou-se terapeuta depois daquele curso no final de semana passado? 

- Isso. Atalhos têm seu valor, seu momento. Estou sendo absolutamente honesto comigo mesmo, me entregando à própria verdade sem brigar com ela. 

- Ok, nesse caso só nos resta...

- Relaxar, topa?

- Relaxar, claro!



domingo, 3 de maio de 2020

Pare de dizer que não vai conseguir...


Foi assim que um caso de amor começou: no balcão de um bar, numa avenida no centro da cidade, no intervalo do trabalho para um cafezinho.
Um homem pediu àquela mulher que lhe passasse o açucareiro.
Ela fez isso de má vontade, com uma careta de desaprovação, sabe-se lá porque, afinal não custava nada.
Ele percebeu, sorriu, mas não disse nada. Apenas, olhando fixamente para seus olhos, colocou o açúcar branco no cafezinho preto, muito. E não economizou na expressão de prazer ao dar o primeiro gole. Desde a primeira olhada, ele reconheceu o que desejava. Tinha aprendido a parar de dizer que não ia conseguir, e testava suas novas experiências.
Ela, constrangida com seu olhar, tentou iniciar um discurso sobre saúde e alimentação, mas gaguejou. Tinha sido contagiada por alguma coisa vinda do ar que ele respirava. O silêncio das palavras venceu Não conseguia resistir, parecia estar sendo fisgada, sendo chamada. Sensação esquisita, sem forças para sair dali. Na verdade, nem queria. Quis muito beijá-lo, ali mesmo, e ousou dizer num suspiro:
- "Não vou conseguir..."
- "Pare de dizer que não vai conseguir...", ele respondeu.
Foram essas as palavras ouvidas por todos ali, nos seus intervalos de trabalho, desejando que também em suas vidas surgissem encontros assim, inusitados. 
Ela então, diante daquela platéia ansiosa, ousou dar um gole de café na xícara dele, tocando suas mãos.
A mágica se deu. Foi o sinal. Olhos nos olhos, agora estavam bem próximos...
- E aí? O que aconteceu?
- Desculpe, mas nesse ponto a minha memória está falhando. Não vou conseguir me lembrar, foi há tanto tempo...
- Pare de dizer que não vai conseguir...
- Já vi esse filme, meu amor. Estou brincando, não percebeu meus olhos risonhos? Querido, posso dar um gole no seu café?


quinta-feira, 2 de abril de 2020

Psicocibernética

Há uma disciplina na faculdade de Psicologia que nos orienta a fazermos pesquisas bibliográficas sérias antes de ficarmos anunciando novidades que já foram analisadas por muita gente boa. No entanto, os velhos e conhecidos processos psicológicos estão ganhando novos nomes, sem nenhuma referência a origens e fontes. Será que o progresso trouxe seus esclarecimentos e complementos aos estudos da alma humana fazendo desaparecer nela o essencial? Sou uma leitora apaixonada. E não raro, através de citações de autores feitas nos livros que vou lendo, saio em busca deles e de seus clássicos. Vou pesquisando, coisa que adoro fazer, e encontro alguns tesouros. Foi o caso do livro de Maxwell Maltz, “Psicocibernética”, publicado, pelo que pude verificar, lá pelos anos sessenta. Um médico, cirurgião plástico, falando de processos tão atuais, analisa a importância de nossa imagem interna substituída pelas questões externas.
Enfim, tudo isso para recomendar uma leitura? Também. Mas para lembrar que algo antigo não significa sem valor. Queria compartilhar com os leitores que gostam de reflexões sobre sentimentos esse livro, e estimular a redescoberta de muitos autores interessantes que andam esquecidos.


terça-feira, 31 de março de 2020

Ficar em casa


Penso que o ficar em casa pode trazer  significados bem interessantes. Talvez  gestos mais caprichosos  nas tarefas que haviam sido envenenadas pelo tédio,ou quem sabe, a  descoberta de objetos que têm história pra contar e andavam meio abandonados (aliás, que tal começarmos a compartilhar tais histórias?). Como não há nenhum balcão recebendo reclamações... uma boa ideia pode ser a gente conectar-se com a beleza, como faz a primavera com as novas flores coloridas surgindo nas árvores e na terra. Ela não se abate com circunstâncias, apenas manifesta-se. Sejamos criativos também e troquemos o  “tenho que” pelo  “eu quero!”.

segunda-feira, 30 de março de 2020

Seguindo...

🌷Adeus, jaula criada pelo medo!
Adeus!
Descobri no meu cantinho, em silêncio;
Que cada momento é único;
Que traz com ele novidades;
Sempre!!!
Acabei de abrir os portais de uma linda estrada, Florida,
Colorida,
Viva!
Como eu...
Como você...
Como nós.
E lá em cima tem uma placa que diz:
"Gratidão".
Vou seguir por ela.
Vem comigo?
Rutty Steinberg

sexta-feira, 20 de março de 2020

Pensando...


Sabe quando a gente começa a pensar em  alçar voos mais altos para conhecer novas paisagens dessa vida? Oscilamos entre “podes” e “não podes”, mas me parece que tudo acontece no tempo certo: a nossa luz ilumina revelações e nos dá ideias. E vai desvendando segredos que andavam  escondidos:  sobre nós mesmos e nossos talentos. A coragem nos inspira  e soltamos a voz:”Sejam bem-vindos, queridos fantasmas, saiam do armário!”. É que nossos corações desejam se abrir  para mudanças e transições, e lentamente vamos recuperando  a confiança no caminho da sabedoria, aprendendo a escolher  entre o bem e o mal.
Quanto aos novos planos, vale a pena sermos leais diante de nós mesmos, nos comprometendo com as escolhas que fazemos, mesmo que contenham  desafios, (o que não dá para evitar pois são inerentes à vida), fluindo sentimentos mais equilibrados. Formas renovadas de comunicação, talvez com mais espaço para a intuição, poderão se abrir na busca por nossas  superações. E vamos crer que a esperança, ao reaparecer, nos ensinará, em meio à instabilidade, que é possível  colhermos alegremente o que foi plantado, podarmos as tristezas das perdas, e irmos ao encontro da verdadeira conquista: a paz

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Desapegar


Desapegar
Sabe quando novas informações pedem passagem, atropelando nosso jeito de ser, querendo entrar na nossa roda da vida  gritando “mudança à vista!”? Ao emparelharem com as antigas, podem ocorrer avaliações bem interessantes, dependendo da disponibilidade interna de cada um para lidar com as próprias  verdades.
Refiro-me àquela conversinha íntima sobre desapegar-se daquilo que já  deu o que tinha que dar, o que sabemos não ser nada fácil. Decidirmos o que vai fazer parte de nossas vidas agora, por ser realmente essencial;  excluirmos  o que, sem dó nem piedade,  não  permanecerá;  integrar objetos, atitudes, pensamentos, emoções, lembranças, relacionamentos, a lista é interminável... Ah! Isso  leva um certo tempo. É uma questão de consciência. Exige critérios que passam, inevitavelmente, por algo também muito íntimo que costumamos chamar de gratidão, e que quase sempre  anda de mãos dadas com os perdões.
Como precisamos dessa energia que libera, que deixa ir, para podermos  atravessar a ponte que leva à conquista de novos olhares.  Nessa transição criamos portais, modernizamos alternativas, e manifestamos o triângulo de novos  pensamentos,novas  vontades e novas ações. Tomamos decisões com os devidos riscos assumidos e vistos como impulsos para a evolução. Quem  sabe,  assim nasça um jeito de viver sem grandes raivas, mágoas, medos e culpas paralisantes, para que  talvez possamos  fluir nessa vida mais amorosamente, sem tantas reclamações e dominando melhor a tentação de se fixar lá atrás. Assim, as novas criações poderão  ser feitas com aquilo que se tem,o  que vamos combinar, não é pouca coisa, nunca!