TRIM, TRIM
Ele não toca...
Mais enganos.
Não há mais toque; há tempos a gente nem se
toca...
Aliás, ele não se toca mais comigo.
E assim, desse jeito, não tem toque,
Nem dele, nem meu,
E nem do telefone.
As maneiras de se dar um toque são muitas,
incluindo aí as modernidades que tornam o telefone algo mais antigo. Mas, os
sentimentos são os mesmos. Quem não esperou ansiosamente por uma chamada, nem
sempre prometida, mas muitas vezes sim, acreditando e sonhando com os futuros
momentos de encontro e/ou declarações?
Linda era uma dessas meninas que estavam
sempre à espera do príncipe que ia ligar. Apesar de sua beleza, inteligência e
simpatia, estava sempre só, ou melhor, acompanhada de suas expectativas. Não
somente namorados ou pretendentes, mas também amigas que a excluíam de passeios
e aventuras constantemente.
Colocava na aparência externa todas as cartas.
Já havia até cortado sozinha seu cabelo, achando que tudo iria mudar com o novo
estilo. Mas, nada. Estava sempre sozinha, sentia-se invisível, de alguma forma
errada, diferente, e quando aparecia uma oportunidade, ela mesma tratava de
listar um monte de exigências tão absurdas, que em alguns minutos todos se
tornavam inadequados, idiotas. Para bom entendendor, somente se interessariam
por ela os sem melhores alternativas. Exigente nossa menina. Mas, de certa
forma, ela tinha razão, porque seu discurso era sobre merecimento, uma espécie
de currículo que supostamente deveria ser apresentado, para ser avaliada a
altura de qualquer candidato a namoro ou amizade, uma vez que Linda era linda.
Um pouco vazia, é verdade, mas por pura ignorância. Conheci duas garotas assim,
lindas e vazias. O encantamento inicial se esvaía em algumas horas, não havia
nada para trocar. E quando havia, ninguém estava interessado. Que dilema,
atrair pela beleza, usar os outros para aplacar a solidão, e nenhum contato
verdadeiro se fazer. Cria-se um mundo de ilusões, de aparências, e de
sofrimentos, mais cedo ou mais tarde.
E assim corria a vida de Linda.Sem compreender
nada sobre a situação, passava os finais de semana debruçada sobre todos os
meios de comunicação da casa, aguardando os trim-trim dos que pareciam
aprovados pelo seu crivo severo. Seria o novo penteado que estava horrível?
Seria não se vestir como as outras meninas o motivo de não ser convidada?
Precisava se tornar mais linda para ter sucesso? Ela não sabia que apenas
precisava ser a Linda, que ela nem conhecia.
Não sei que fim levou a Linda, mas com
certeza, não escapou da maturidade, no mínimo fisicamente. Sim, isso já faz um
bom tempo. Quem sabe ficou rica e investiu tudo em tratamentos
rejuvenescedores? Talvez tenha desistido da sua lista de exigências, (pois a
solidão interna é dura de engolir), e tenha se juntado a quem apareceu
primeiro. Pode ser também que tenha passado pelas mãos inescupulosas dos que se
divertem com a fragilidade alheia. Ou, ainda, queira Deus, aberto um canal de
conexão com suas verdades interiores, e descoberto um mundo maravilhoso ao seu
dispor. Tudo isso é possível e muito mais, mas a partir de hoje, ao se pegar
esperando um telefonema que não chega, alcance sua bolsa, retoque o batom, e vá
passear por aí. Ou simplesmente junte-se a sua alma, que costuma ser uma grande
companhia, cheia de idéias criativas. Peça a ela, de coração, para dar um novo
rumo àquele currículo velho e desbotado, e vá atrás dos que enxergam o que há
por trás das aparências.
Muito bom!
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ResponderExcluirBom mesmo! :)
ResponderExcluirBom mesmo! :)
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