domingo, 3 de maio de 2020

Pare de dizer que não vai conseguir...


Foi assim que um caso de amor começou: no balcão de um bar, numa avenida no centro da cidade, no intervalo do trabalho para um cafezinho.
Um homem pediu àquela mulher que lhe passasse o açucareiro.
Ela fez isso de má vontade, com uma careta de desaprovação, sabe-se lá porque, afinal não custava nada.
Ele percebeu, sorriu, mas não disse nada. Apenas, olhando fixamente para seus olhos, colocou o açúcar branco no cafezinho preto, muito. E não economizou na expressão de prazer ao dar o primeiro gole. Desde a primeira olhada, ele reconheceu o que desejava. Tinha aprendido a parar de dizer que não ia conseguir, e testava suas novas experiências.
Ela, constrangida com seu olhar, tentou iniciar um discurso sobre saúde e alimentação, mas gaguejou. Tinha sido contagiada por alguma coisa vinda do ar que ele respirava. O silêncio das palavras venceu Não conseguia resistir, parecia estar sendo fisgada, sendo chamada. Sensação esquisita, sem forças para sair dali. Na verdade, nem queria. Quis muito beijá-lo, ali mesmo, e ousou dizer num suspiro:
- "Não vou conseguir..."
- "Pare de dizer que não vai conseguir...", ele respondeu.
Foram essas as palavras ouvidas por todos ali, nos seus intervalos de trabalho, desejando que também em suas vidas surgissem encontros assim, inusitados. 
Ela então, diante daquela platéia ansiosa, ousou dar um gole de café na xícara dele, tocando suas mãos.
A mágica se deu. Foi o sinal. Olhos nos olhos, agora estavam bem próximos...
- E aí? O que aconteceu?
- Desculpe, mas nesse ponto a minha memória está falhando. Não vou conseguir me lembrar, foi há tanto tempo...
- Pare de dizer que não vai conseguir...
- Já vi esse filme, meu amor. Estou brincando, não percebeu meus olhos risonhos? Querido, posso dar um gole no seu café?


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