terça-feira, 25 de junho de 2019

Vamos em frente!



Aquela mulher parecia triste, cabisbaixa, pensativa. Num impulso que chamaria de solidário, me aproximei, e sentei-me ao seu lado. Ficamos as duas contemplando o mar, naquele banco na calçada. O visual era inspirador, com o sol de final de tarde e uma brisa suave criando um clima suave. Não resisti e lhe perguntei:
- “Quer compartilhar?”
Ela não se surpreendeu. Nosso contato havia sido feito por vias invisíveis.
- “Andei embarcando nas expectativas alheias e desejo retornar. Você sabe como se faz isso?”
Fiquei sem reação, mas o comentário dela me atingiu com um frio na barriga. E respondi, já meio íntima:
- “Nem sei por onde começar uma reflexão dessas ..., seja mais específica.”
Ela então me explicou que quando menina era castigada com olhares atravessados e bocas retorcidas sempre que expressava com firmeza o que desejava; e que recebera o estigma, ainda garota, de agressiva e problemática. Seguindo a rota dessas fisionomias, conselhos de como ser amada, aprendeu a se conter, obedecer, e a ter um baú interno onde tudo podia ser muito bem guardado e trancado. Só que estava constrangida ao perceber que continuava enchendo o tal baú, que se recusava a fechar, e o pior, agora ele continha muitas ladainhas que nunca haviam passado por um pente fino. Estava cansada das simulações, e não sabia como mudar.
Assenti com a cabeça, pois havia compreendido perfeitamente essa sina que acompanha as pessoas obedientes e confusas, ou confundidas, como somos todos nós em algum momento. E às vezes, sempre. Aí, perguntei:
- “E se eu tivesse essa resposta, sobre como retornar à essência, você não estaria repetindo o que faz sempre: seguir as expectativas alheias?”
Ela me olhou de um jeito simpático e disse: “Você está certíssima!”.
Levantamos, as duas, porque o encontro se encerrava, e num impulso que chamaria outra vez de solidário, nos abraçamos. Cada uma seguiu o seu rumo, mas algo ali havia se transformado. Nenhuma de nós saberia dizer exatamente quem ou o que... Mas, essa reflexão sobre energias invisíveis fica para outra ocasião. O mais importante, antes que a sabedoria finalmente um dia nos envolva, é que não vale melar o jogo e apagar o fogo interior. Há que prosseguir!

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