quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Passeando pelo mundo digital


A necessidade faz a gente ir à luta, não é? Lembro quando, morando fora do Brasil, precisei configurar uma impressora nova cujo manual era como um pergaminho a ser decifrado. Celular na mão, falando com uma amiga brasileira que tinha uma igual configurada por seu marido, lá estava eu, no chão, cercada por fios e plugs e mensagens alienígenas na tela, ouvindo coisas do tipo: "Tá vendo uma rodelinha rosa? Pega o fio rosinha.Clica do lado direito... Ih, pera, deixa eu perguntar pro maridão...". E assim, entre chamadas no celular, gargalhadas e um certo desespero, conseguimos os três resolver a parada. Foi assim também, metendo a cara, que aprendi a ler livros enormes baixados no computador, criando um espaço confortável, pernas pra cima, regado a biscoitinhos e café.  Era isso ou nada de leitura. Ah, não, desistir, jamais!
E agora, eis-me às voltas com a abertura de novos espaços virtuais, outro desafio pela frente. Sei que não sou a única a perguntar "o que é isso?"Continuo utilizando o famoso "quem tem boca vai a Roma". Afinal, todos nós precisamos "atualizar" procedimentos digitais no dia a dia, enfrentando termos estranhos colocados a nossa frente como se fossem a coisa mais natural do mundo, contendo promessas de interlocução, de sucesso nos relacionamentos, e outras coisas que nem sabemos o que é. Cliques que valem ouro, botões indicativos disso ou daquilo, um mundo de informações novas, que vão rastejando até derrubarem os dinossauros que ainda vivem em nossos hábitos. Como não é sábio a gente fugir de desafios, vamos perdendo o medo de clicar. Gradativamente, é verdade, ou por esbarrões inocentes nas teclas, mas, enfim, sigamos em frente.
Da mesma maneira que nos comportamos quando somos turistas, nos deslumbrando com algum ponto interessante do passeio, tirando fotos, respirando alguma beleza, vamos transitando pelas descobertas, quase sempre com o auxílio da nova geração, mestres dos cliques, que sorriem diante de nossas dificuldades. De braços dados, saímos também clicando por aí, descobrindo que continuamos vivos mesmo quando erramos e tudo se apaga magicamente. Siglas, símbolos, ícones, janelas, uma terminologia que vai rompendo barreiras, como numa trilha daquele tipo que a gente não olha pra baixo e fica se perguntando qual é a melhor maneira de não escorregar, ou sucumbir às fantasias de morrer estupidamente.
Ainda bem que existem guias e tutoriais ao longo do caminho, gente de boa vontade que ensina como aproveitar melhor o passeio pelo mundo digital, porque, não sei vocês, mas eu preciso de reforço, como tive na época dos exames de admissão ao ginásio. Venho me tornando mais ousada, e a vontade de fazer as coisas da maneira certa para que funcionem tem me ajudado a apreciar melhor a paisagem, mesmo aprontando situações que acabam se tornando hilárias. Algum tempo depois, é claro.












sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Pensando com meus botões...

Há dias em que fatos e pessoas de nosso passado aparecem para uma breve visita. Com um leve toque no ombro, vestidos de lembranças que andavam esquecidas, mas nem por isso menos importantes, reajustam nossas interpretações antigas. Nossa! Eu nem desconfiava que isso ou aquilo poderia estar acontecendo! É o que nós pensamos ao nos atualizarmos com as informações que chegam com o próprio tempo. Nem poderia desconfiar mesmo. A vida parece um quebra-cabeças que a gente vai encaixando aos poucos à medida que amadurecemos. São encontros, desencontros, pequenas passagens, que de maneira precipitada vamos julgando, colocando no palco conforme nosso entendimento, este tão limitado ainda. É isso e pronto!, dizemos com a mais absoluta confiança. Fulana é antipática, o vizinho está sempre de cara fechada, não sei quem é grosso. Pouco nos importam seus motivos, deixamos que as aparências nos iludam, talvez por preguiça de nos determos por alguns momentos para avaliações mais profundas. É bem mais cômodo fazer assim.

Mas, quantas vezes por trás daquilo que enxergamos nos outros existem motivos que nem sonhamos, e talvez no seu lugar tivéssemos reações muito piores...só que imaginar a dor de nosso semelhante seria mexer com nossas emoções, que deram um trabalho danado para atingirem um certo equilíbrio. Equilíbrio questionável, é verdade, mas ainda assim nos sustenta. Deixar pra lá tornou-se especialidade da gente moderna, que vive correndo de si mesma. Preenchemos o tempo com qualquer coisa que afaste a solidão assustadora. E no entanto, é ela que na medida certa traz consigo momentos de alta criatividade. E mais, clareia nossas possibilidades de escolhas nessa vida. Quando aprendemos sobre a própria companhia, não nos conformamos com qualquer coisa, não é verdade?

Só não dá pra esquecer que um dia a consciência ganha seu espaço, nem que seja no último instante de vida, e aponta as nossas verdades. Doendo ou não pelas oportunidades perdidas, percebemos que nem nos demos ao trabalho de olhar melhor para eventos que poderiam ter mudado rumos, acrescentado sabedoria, enriquecido contatos, favorecido verdadeiras amizades, e muito mais. Triste, mas é assim que quase sempre entendemos que tudo tem o seu ritmo, sua hora certa, e se passou, fazer o que? Fica apenas a lição de que nem sempre temos razão, e na maioria das vezes nossas interpretações superficiais não passam de enganos. Aprendemos que a paciência é um maravilhoso dom a se desenvolver; que observar em silêncio pode abrir portas àquilo que nem sonhávamos e que a humildade contém uma força imensa ao admitirmos que não sabemos o que se passa nem nos bastidores da nossa consciência, quanto mais nos da alheia.

Sendo assim, só podemos admitir os julgamentos equivocados que povoaram nossas memórias e dizer de cabeça baixa: Foi mal..., me desculpe!