terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Aiemy Dibesty e Robber Ismartgay


Aiemy Dibesty  dividia pessoas em castas, segundo seu próprio critério. Mais ousada do que bonita,seu poder de sedução passava por uma compensação qualquer, sabe-se lá o que.  Desde cedo, acostumou-se a ser a dona da verdade, e aprendeu direitinho a supervalorizar suas conquistas.Ensinava a todos como superar suas dores, desenvolveu uma mira fabulosa para fazer contato com sofredores onde se sentisse à vontade para montar o cenário de amiga prestativa, e como bônus, ganhar elogios a respeito de sua evolução espiritual. Com o raciocínio lógico afiado, mesmo que duvidoso, eliminava qualquer emoção do jogo.  Engolia medo e inveja como artistas de circo fazem com o fogo . Interessante seu lema: jamais deixar alguém levantá-la ao cair.  Seus pés não se fixavam direito no chão onde pisava,o peito estufado de orgulho dissimulado desafiava o seu equilíbrio, e por isso não enxergava a sua própria sombra.
Um dia conheceu um sujeito que era muito melhor do que ela na arte da prepotência, e na busca de algum lucro. Ele disfarçou-se bem, tentando demonstrar, através de gentilezas, favores  e carinhos, uma paixão. Manejava sentimentos de culpa como ninguém, um mestre nesse tipo de projeção. Robber  Ismartgay  humilhava, num “morde-e-sopra” perfeito. Tudo  para ofuscar o brilho que enxergava nos superadores de desafios, porque isso ele não suportava.  Entrava de mansinho na vida dos que se enxergam muito além do que são, reféns da ingenuidade negada, e gradativamente ia mostrando suas garras. Robber e Aiemy formaram um casal de filme, no início. Mãos dadas até pra comprar pão, bitocas a cada passo, café na cama, onde seu desempenho era fenomenal, graças ao constante treinamento via filmes pornôs, talento e vivência de malandragem. A coisa parecia funcionar muito bem, e foram momentos de glória para o ego de Aiemy Dibesty. Seu negócio de especialista em comportamento humano bombou. Orelhas de livros, mensagens da internet sobre as formas mais modernas da ciência para a felicidade, atalhos maravilhosos para permanecer em zonas de conforto, mas estudar? Nem pensar!
Enquanto isso, Robber Ismartgay aprimorava-se em contabilidade e contatos para administrar o negócio. Dizia ser esse seu forte, necessitando equipamentos de última geração, com câmeras, porque nada substitui a imagem. Justificando estar muito cansado, trancava-se em um dos quartos, levando tudo, porque nunca se sabe, não dá para perder oportunidades. Ria sozinho de seus truques, gabava-se de não sentir solidão, e topava qualquer coisa onde não se sentisse vulnerável. Nesse esconderijo de si mesmo, sentia-se protegido, com o controle total de qualquer situação.

Próprio de quem vive nas nuvens ao lado de seres superiores, Aiemy e Robber seguiam com o sorriso de vitória nos lábios. Mas, nem sempre as coisas são como parecem ser. O tédio e o vazio foram implacáveis. E os deuses resolveram brincar um pouco com a consciência do tempo. Mandaram baixar a poeira e abriram as cortinas. O espelho, que sempre está diante de nós,  refletiu um homem sem brilho próprio e uma mulher sem atrativos, os dois empurrando a vida com a barriga. As luzes alcançaram o  mistério da humanidade. O casal viu enfim a própria nudez .  Aiemy  e  Robber  se abraçaram e choraram juntos pela primeira vez, desejando resgatar o tempo perdido na encenação. Dizem por aí que suas lágrimas formaram um rio por onde se banham casais apaixonados até hoje.