quarta-feira, 3 de abril de 2024

Coincidências existem?



Amo cães, sempre amei, me pego rindo com eles, e essa alegria que eles me oferecem com suas gracinhas vale ouro. Assim, decidi ir atrás de uma nova companheira de quatro patas, fêmea, para que as visitas de Argos, (outro cão que agora vive com meu filho), pudessem acontecer sem grandes conflitos. 
Foi uma surpresa quando através do contato com um desses lugares onde animais são adotados, divulgando anúncios em redes sociais que nos fazem chorar, recebi um não como resposta, "pois na sua idade não liberamos filhotes, e não pode ser fêmea". Quem precisa de outra definição de etarismo? Com certa tristeza, (pois tinha me encantado com a foto de uma cadelinha), pensei que seria perfeito encontrar a minha nova companheira por aqui, onde moro, magicamente, e decidi deixar que a vida cuidasse disso para mim.
Enquanto isso, lá longe, bem longe, uma cadelinha de três meses, perdida em locais sem qualquer segurança, se encantou por um rapaz, e ele por ela. 
E quem poderia imaginar que esse rapaz era meu vizinho? Pois bem, ele a trouxe, a Chica, como foi inicialmente chamada, para bem pertinho de mim. Como ela não pode ser adotada no lar que havia sido idealizado para ela, foi anunciada na página da rede social da vizinhança, em busca de um lar. "Coincidentemente" eu vi o anúncio, e decidi adotá-la. Acreditei que a vida realmente cuidou disso para mim.
Nina (ex-Chica) chegou, veio morar comigo. Uma filhotinha de três meses, sobrevivente de locais perigosos, cheia de energia, muito mais do que eu poderia imaginar. Por onde passa quer brincar, ganhar amigos, transitando entre a ousadia e a doçura, subindo em mesas, roubando comida, exigindo atenção, com dentinhos afiados, mas sempre amorosa, quando se acalma e opera no modo "zen". Tenho tentado compreender sua linguagem, e , bem, mordida, mesmo de amor, dói, né? Em meio a nossos pequenos rompantes de impaciência, nessa busca de limites e expressões adequadas, eis que me pego agora na preparação física necessária para grandes caminhadas, reuniões caninas em gramados, se eu quiser ter paz por alguns momentos, Nina vencida pelo cansaço. Visando mudanças em minha rotina, com direito a treinos que me fortaleçam, eu também tenho me disciplinado para poder acompanhá-la, porque não há como desligá-la sem gastar sua energia. Já estou também "vacinada" contra os comentários de quem encontramos em nossos passeios, que fazem questão de dizer, "uau, ela vai ficar enorme!!!". E vai mesmo, tudo indica. 
Mas, concluindo até segunda ordem, se a vida é feita de desafios, o meu próximo pelo visto é sincronizar os passos de ambas, os dela e os meus, para que nossos passeios sejam alegres, prazerosos, saudáveis. Será querer demais? E aguardar que Nina e eu nos harmonizemos, para que tenhamos um lar, doce lar. 
Fica então a dica: faça direitinho suas criações porque a vida costuma levar a sério nossos desejos. Torçam por nós!

 



domingo, 11 de fevereiro de 2024

 Livros que publiquei


Quatro livros, que carinhosamente chamo de romances terapêuticos, falando de questões sérias, mas com um toque de magia. Ficções que remetem a reflexões, penso eu. Ainda os considero como ensaios, mas nem por isso deixam de tocar as almas de alguns leitores que me deram seus depoimentos. Aos poucos vou desenvolvendo a minha paixão por contar histórias, que venho registrando, ao observar e aprender com a vida, com os mestres pelo lado avesso, e com quem atendi nesses cerca de cinquenta anos "psicologiando" também entre grupos, projetos, estudos e reflexões. 
Os livros estão publicados na amazon.com.br, Amazon, Barnes & Noble, Apple, Kobo, Scribd, Tolino. Google Play, também em inglês e espanhol. E se alguém se interessar em traduzi-los para outros idiomas, por favor, entre no site da Babelcube, e lá encontrará os procedimentos necessários para isso.
Novos romances? No tempo certo, tudo acontece. Mas há os textos no blog aguardando a sua avaliação.
Um abraço em todos os meus leitores.








 REFLEXÕES SOBRE "NINHO VAZIO"

Na minha varanda, numa viga no teto, instalou-se um passarinho, uma futura mamãe. Pois bem, ali ela chocou seus ovinhos, um até quebrou e caiu, mas vida que segue, ali estava ela. Vez por outra, desaparecia, sei lá, ia dar uma voltinha por essas lindas árvores da área. Depois regressava ao ninho concentrada na sua tarefa de chocar ovinhos. Enquanto eu contemplava essas mesmas lindas árvores ali da minha varanda todas as manhãs, acompanhava o processo. Cheguei a pesquisar, e soube que em vinte dias mais ou menos os filhotes apareceriam. Um dia, olhei para cima e vi mais duas carinhas de passarinhos. Senti alegria ao ver a nova família amontoada na telha. Alguns dias depois um dos filhotes já havia partido. Naturalmente, bateu suas asas e voou. Mas o irmão ficou. Eu observava que ele tentava voar, batia levemente as asinhas, e desistia, voltando para o ninho. Levou mais um ou dois dias para ir embora. Sua mãe vinha vez por outra olhar como iam as coisas, dava comida bico a bico a seu filhote e ia embora. E um dia, ele, o segundo passarinho, também se foi. O ninho ficou vazio.
O tema do ninho vazio nos remete de alguma forma à passagem do tempo. Somos convidados a dar uma revoada pelos caminhos percorridos nessa vida, enfrentar algumas despedidas, reavaliar limites e possibilidades. Às vezes damos pouca atenção às mensagens da natureza, deixando passar lições sobre a vida naquilo que nos cerca.
Imagino que o teto da minha varanda tenha sido bem avaliado no noticiário dos passarinhos da região, pois em seguida chegou nova mamãe com seus ovinhos, instalada nesse mesmo lugar, que não foi desmontado. Talvez fosse a mesma, como saber? Curiosamente, vi de outra janela da casa um cano com dois ovinhos abandonados, há dias. Vai ver que no mundo das aves também rola esse tipo de coisa: rejeição parental e abandono.
De qualquer maneira, chegamos ao x da questão: como dar novo significado à rejeição e ao abandono quando se fala em ninho vazio? São filhos que crescem, trabalhos que se encerram, o envelhecimento, mas talvez o maior abandono seja de nós para nós mesmos, nesse momento, quando não suportamos sentir nossas emoções. Ah, saudade. Um processo natural que demonstra que algo muito bom fez parte de nossas vidas um dia. Eu sei, dói, queremos mais, outra vez. De tudo. Às vezes penso que se pudéssemos matar a saudade de tudo lindo que já vivemos ao mesmo tempo, seria como usarmos todos os temperos da cozinha conjuntamente num só prato. Deve ficar horrível! E sei que é difícil aceitar que não há como voltar no tempo exatamente como eram as coisas. Quando um papel que desempenhávamos se torna obsoleto, é hora de buscarmos uma nova forma de realização. Pode doer um pouco, mas também é sinal de que deu certo, os filhos aprenderam a voar, e agora é hora do nosso voo, se o ninho esvaziou. Missão cumprida? Sim, novas decisões serão tomadas, novos rumos aparecerão.

Diferente de rejeição, estamos falando de progresso. É hora da criação de outro estilo de vida, de aprender sobre a própria companhia e as novas escolhas. A saudade? Bem, talvez a gente deva deixar que nossas boas lembranças iluminem o caminho, porque isso nos faz sorrir, é gostoso reviver bons momentos, e sabermos do que fomos capazes. Mas não deixemos que elas substituam o que temos pela frente aqui e agora, mesmo que sejam desafios, porque eles nos fazem evoluir.
Rutty Steinberg
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Todas as reações

 


SOBRE MEDO

Há um lugar na minha varanda onde me sento pelas manhãs, com sol ou com chuva. Dali contemplo o céu, os desenhos que as nuvens fazem, vejo e escuto passarinhos em plena atividade, admiro os múltiplos tons de verde das árvores e as flores coloridas, e ali atrás, admiro uma montanha. Ao me conectar dessa maneira com a beleza, peço que essa harmonia traga as respostas que meu coração quer para o dia que se inicia e as intuições que o vento leva e traz, entre um ou outro gole do meu café. Faço reflexões, descobertas, planos, às vezes escrevendo, e às vezes apenas pensando, e me permito reconhecer como tudo está interligado.

E foi assim que um dia, uma gatinha, adotada por algum vizinho, veio me visitar. Pequena, um filhote, que achei ser fêmea, mas nunca confirmei e assim ficou sendo. Branquinha, com manchas em tons castanhos, coleirinha no pescoço com um coração, começou a se enroscar em mim, percorreu a varanda, pedindo para receber carinho. Destemida, mostrava como dar saltos no telhado pulando para outras varandas e depois voltando. Não tenho muita intimidade com gatos, mas ela me chamou a atenção, me fazendo rir, passeando pelas casas ao lado. Numa dessas casas, um cachorro enorme estava deitado tomando sol. Ele a viu, e ameaçador, começou a latir sem parar, pulando, mas a gatinha foi até lá e encarou o cão. Sim, colocou a carinha bem pertinho de sua boca, apenas observando a cena, sem medo. Parecia não entender o porquê daquele barulho todo, talvez sentindo-se protegida pela grade que o mantinha na varanda. E não é que o cachorro desistiu de latir? Simplesmente parou, sem saber o que fazer, e entrou na casa dele. E ela se foi, alegremente, continuando a pular de varanda em varanda, dando uma aula de agilidade, flexibilidade e coragem.
Qual final Esopo colocaria nesse encontro se estivesse ali, com suas fábulas? E nas contadas deliciosamente por Monteiro Lobato, o que diria a turma do Sítio do Picapau Amarelo? Sim, a riqueza das fábulas nos proporciona um alimento para a alma, e os animais nos ensinam lições sobre a vida, nos fazem refletir. Será que a confiança dessa gatinha passa por algum instinto que lhe sopra sobre perigos reais? Ou sobre o cachorro ser pesado e não conseguir pular a grade da varanda e pegá-la, logo ela, uma especialista em saltos no telhado? Ou quem sabe ela conhecia o velho ditado: “cão que ladra não morde!”?
Suas visitas continuaram a acontecer, e num momento em que a porta da minha varanda estava aberta, ela entrou em casa sem qualquer cerimônia. Mas, dessa vez, havia o meu cachorro, enorme, ali, e por pouco ela não se deu mal. Correu assustada e se safou. Empolgada com a exploração do mundo, filhotes são assim. Mas, talvez o excesso de confiança a tenha impedido de avaliar onde estava se metendo. Será? A gatinha não desistiu. Talvez tenha aprendido mais sobre sua necessidade de defesa, vai saber. Só sei que ela voltou no dia seguinte, e no outro, e hoje, e sempre volta.
Ah, a aprendizagem dessa vida prossegue, não termina nunca. A quantas desistências o medo já nos levou, justificadas por algumas situações que nossas fantasias catastróficas pintaram? E em quantas outras vezes nos safamos, porque a intuição gritou na hora certa “Sai daí!”? Mesmo sendo ágeis e flexíveis precisamos ser especialistas também em avaliar as possibilidades de enfrentamentos, superações, fugas, afastamentos, desapegos; e se o bem mais precioso que temos é o nosso tempo, sejamos bons em abrir os olhos, observando as pequenas coisas dessa vida para torná-las grandes, ou ao contrário. Se nos conectarmos com a sua sabedoria, perceberemos que mesmo parecendo que o mundo está parado e nada acontece, isso não é verdade.
Rutty Steinberg

domingo, 19 de dezembro de 2021

Toti

 

Toti

Lá pelos meus 6 ou 7 anos de idade, ia sempre com minha mãe e meu irmão à Cascata dos Amores, como fazíamos todos os dias, nas férias em Teresópolis. Passávamos por uma rua que subia, com muito verde e ar puro, e eu não conseguia chegar lá em cima sem fazer minha mãe bater na porta de alguma casa pedindo um copo d’água para mim. Nessa época, meu pai ficava no Rio durante a semana, trabalhando, e mamãe, meu irmão e eu, no apartamento do ex-hotel Higino, o imenso Edifício Teresópolis, um tesouro de lembranças gostosas.

Pois bem, era uma linda manhã de verão em Teresópolis e naquele dia íamos só minha mãe e eu pela tal rua que subia, passando pelos muros verdes das casas, respirando o ar puro, as duas distraídas, quando ouvimos o choramingar de um cãozinho que estava embrenhado nas folhas, um filhotinho desamparado que nos cativou imediatamente. Quase não pensamos ao decidir levá-lo conosco. Foi a alegria da criançada ver aquela bolinha peluda correr pelos corredores do prédio, levando o síndico mal humorado a mais uma crise, além daquela que se manifestava ao ver a pirralhada sentada nos braços das poltronas do hall. Só rindo, ou sorrindo, talvez seja melhor. Enfim, Toti foi o nome que lhe demos, alimentado com paõzinho molhado no leite, porque ninguém ali tinha outra ideia de como alimentar um bebê canino.

A semana passou cheia de alegria, todos ansiosos para meu pai chegar e conhecer Toti, o novo rei da casa. E ele chegou, final de semana, todo feliz para nos contar a surpresa que tinha à nossa espera lá no Rio: um cachorrinho. Parece filme, mas não é, e um dos dois cães ia ter que sair da família. Ao conhecermos o cachorrinho carioca, preferimos o Toti, já íntimo e amado a essa altura do campeonato.

Toti cresceu lindo, e em alguns meses tornou-se um vira-lata elegante e brincalhão. Mas um dia, se excedeu nas brincadeiras e sem querer me arranhou. Foi o suficiente para ser despejado e enviado para o sítio da secretária do escritório de papai. Nunca mais o vi, mas soube que estava feliz, e já tinha até filhotinhos. Trauma para uns, sabedoria para outros.

Ah, pontos-de-vista diferentes! Circunstâncias ditam reações muitas vezes dolorosas para os pequenos que não enxergam riscos nem aceitam perdas. Prefiro, hoje, entender que encontros felizes são presentes que recebemos pelo caminho, e que depois das trocas, caminhos se diversificam. Não há como ter tudo o que vivenciamos, ao mesmo tempo, no foco da consciência, e para isso existe a saudade. Ela funciona como uma espécie de gatilho: traz para perto de nós memórias e aí verificamos se cabem reativações no momento presente. Toti tornou-se uma dessas deliciosas lembranças que nos lembram sobre o imprevisível, sobre aquilo que torna a vida uma grande aventura. E que me transporta pelo tempo, me faz sorrir.

sábado, 8 de agosto de 2020

Relaxar, topa?

- Às vezes eu simplesmente não consigo relaxar... 

- Há momentos em que a gente acha que relaxar é impossível, que é preciso permanecer atento a tudo e a todos, que acalmar a mente pode ser perigoso.

- É mesmo. Não tenho ideia de onde vem tamanha ansiedade. E nem sei onde fica o botão que desliga a cabeça a mil.

- Dizem por aí que ao enxergarmos o bicho que nos assusta, é meio caminho andado. Ansiedade? Quem sabe é uma questão de ousarmos conhecer mais sobre nossos fios desencapados, esses que dão choque na hora que decidimos relaxar? 

- Ah, não sei não, muitas coisas têm sido compartilhadas pelos canais modernos de comunicação, incluindo orientações as mais variadas sobre como resolver os mais diversos conflitos e problemas humanos. Dá vontade de ir lá ver nos bastidores dessa turma se já resolveram os próprios problemas usando suas ferramentas. 

- Resolver seria ter paz no lugar da angústia? Isso relaxa?

-  Angústia tem a ver com relaxar? Será? Bem, se nem tudo está perdido, poderemos tomar providências para reaprender a relaxar. Talvez a gente deva reunir as técnicas oferecidas e processá-las, testá-las, sei lá...

- Ou talvez nos lembrar da magia que é respirar em momentos críticos; ou tentar sair das malhas dos rancores, dos medos, das culpas. Mas levaremos séculos para isso, e nem sabemos se vai funcionar.

- E além do mais, como faríamos isso? 

- Ora, usando a capacidade humana de refletir sobre situações que deverão passar pelo teste da realidade.

- Realidade? Por favor, não traga essa palavra, porque vai complicar mais ainda. A minha realidade é só minha, a sua é só sua.

- Faz sentido. Quis dizer que nossas expectativas quase sempre se originam em carências que de tanto serem carentes se tornam exigências, intolerância à frustrações, e para coroar a experiência, se embolam em ansiedade. 

- Uau! Agora você arrasou com "embolam em ansiedade". Fez algum curso, ou está atuando como algum tipo de cuidador, treinador, sei lá, uma dessas profissões atuais?

- Nada disso. Falo de deixar ir, sem ficar gastando à toa energias preciosas, ruminando. Falo também de compreender melhor e até admirar eventos, limpar o emocional daquilo que não faz parte do momento de relaxar. Afinal, relaxar pode ser  soltar as amarras do pensamento e das emoções, sem medo de não conseguir voltar a consciência a um lugar seguro.

- Consciência tem um lugar seguro? Você hoje está se superando! 

- Ou talvez para relaxar seja preciso sermos sinceros. Admitirmos sentimentos que não são bem vindos, sem nos entregarmos a eles.

- Desistirmos de sermos perfeitos, sem nunca poder errar.

- Você também está ficando esperto, tornou-se terapeuta depois daquele curso no final de semana passado? 

- Isso. Atalhos têm seu valor, seu momento. Estou sendo absolutamente honesto comigo mesmo, me entregando à própria verdade sem brigar com ela. 

- Ok, nesse caso só nos resta...

- Relaxar, topa?

- Relaxar, claro!



domingo, 3 de maio de 2020

Pare de dizer que não vai conseguir...


Foi assim que um caso de amor começou: no balcão de um bar, numa avenida no centro da cidade, no intervalo do trabalho para um cafezinho.
Um homem pediu àquela mulher que lhe passasse o açucareiro.
Ela fez isso de má vontade, com uma careta de desaprovação, sabe-se lá porque, afinal não custava nada.
Ele percebeu, sorriu, mas não disse nada. Apenas, olhando fixamente para seus olhos, colocou o açúcar branco no cafezinho preto, muito. E não economizou na expressão de prazer ao dar o primeiro gole. Desde a primeira olhada, ele reconheceu o que desejava. Tinha aprendido a parar de dizer que não ia conseguir, e testava suas novas experiências.
Ela, constrangida com seu olhar, tentou iniciar um discurso sobre saúde e alimentação, mas gaguejou. Tinha sido contagiada por alguma coisa vinda do ar que ele respirava. O silêncio das palavras venceu Não conseguia resistir, parecia estar sendo fisgada, sendo chamada. Sensação esquisita, sem forças para sair dali. Na verdade, nem queria. Quis muito beijá-lo, ali mesmo, e ousou dizer num suspiro:
- "Não vou conseguir..."
- "Pare de dizer que não vai conseguir...", ele respondeu.
Foram essas as palavras ouvidas por todos ali, nos seus intervalos de trabalho, desejando que também em suas vidas surgissem encontros assim, inusitados. 
Ela então, diante daquela platéia ansiosa, ousou dar um gole de café na xícara dele, tocando suas mãos.
A mágica se deu. Foi o sinal. Olhos nos olhos, agora estavam bem próximos...
- E aí? O que aconteceu?
- Desculpe, mas nesse ponto a minha memória está falhando. Não vou conseguir me lembrar, foi há tanto tempo...
- Pare de dizer que não vai conseguir...
- Já vi esse filme, meu amor. Estou brincando, não percebeu meus olhos risonhos? Querido, posso dar um gole no seu café?